tudo passa

Ex Amigo, seu pior inimigo!

O fio da navalha entre amizade e política

Por Rafael Rocha em 10/07/2023 às 09:40:13

"Toda coerência é, no mínimo, suspeita." A frase, do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, combina bem com a disputa pelas atuais eleições municipais no Brasil.

Quem é hoje adversário já foi aliado e o aliado de ontem é o adversário de hoje.

Tudo no modelo em uma verdadeira "dança das cadeiras". Com isso, sobram declarações contraditórias e são formadas alianças consideradas impensáveis no passado.

Ao reler clássicos como O Principe de Nicolau Maquiavel, A arte da guerra de Sun Tzu ou mesmo o ilustrativo As 48 leis do poder de Robert Greene, conseguimos nos deparar com conceitos básico que vez por outra são negligenciados na política local.

O próprio Aristóteles na Grécia antiga já dizia que a amizade e a guerra são a origem de toda instituição e toda destruição.

Exemplos políticos temos de sobra.

Foi o irmão o estopim da crise que levou à queda do ex-presidente Fernando Collor. Foi o leal segurança, de anos, o arquiteto do atentado contra Carlos Lacerda que levou ao suicídio de Getúlio Vargas. Foram amigos de debate econômico os pedaleiros de orçamento que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff.

Em política, cuidado redobrado com os amigos e aliados.

Nunca se sabe o que serão capazes de fazer. Os inimigos são previsíveis, querem o seu mal. Já os amigos podem fazer o mal até sem querer… é por isso que alguns poderosos afastam todas pessoas próximas e preferem exercer o poder na ampla solidão dos palácios.

Outro caso emblemático é sem dúvidas o ex presidente Bolsonaro.

Quase todos os problemas nos quais ele se envolveu, ou foi envolvido, partiram de quem ele afasta por discordância ou para inflar as redes sociais.

Ser "mito" no Twitter, ter que esculhambar alguém todo dia para ganhar seguidores, tem preço. Reclamar do casaco em dia de sol faz você morrer quando o inverno chega.

Um dos ônus no cultivo de um antagonismo político é a bipolaridade. Dividir o mundo em "nós contra eles", "bandidos e mocinhos", além de ignorar nuances da natureza humana, entrega aos ex-aliados um só caminho: a trincheira inimiga.

Todos os ex-amigos de Bolsonaro tornam-se inimigos e isso é um sério problema na política, onde fechar portas é fechar os olhos para a sobrevivência.

Por fim, parafraseando o grande filósofo e teórico político inglês, Thomas Hobbes: "O homem é lobo do homem, em guerra de todos contra todos."

Fonte: Rafael Rocha

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