Duas grandes obras me fazem constantemente refletir sobre um mesmo ponto de vista.
A primeira é um conto literário da imortal Lygia Fagundes Telles, O seminário dos ratos.
A segunda é um clássico do rock brasileiro, bichos escrotos da banda Titãs.
No conto "Seminário dos ratos", o texto é, originalmente, uma alegoria ao regime ditatorial que imperava no Brasil quando foi escrito em meados dos anos 1970.
A obra tem como estilo o realismo fantástico. Um verdadeiro olhar crítico de seu tempo.
No conto, o seminário reúne chefes de diversas nações para decidir sobre a situação dos ratos. Em vez de nomes, esses líderes são identificados apenas pelos cargos que exercem. Na fantasia, os ratos roem tudo o que encontram pela frente: comida, pessoas, roupas, móveis.
Os personagens retratam um governo autoritário e burocrata, reclusos em uma mansão enquanto o povo passa fome. Nas entrelinhas o conto parece nos perguntar quem realmente são os ratos nesse cenário.
Na Revolta dos "Bichos Escrotos"temos uma crítica social afiada dos Titãs.
A música em questão é uma expressão de revolta e crítica social embalada em um ritmo punk rock. Lançada na metade dos anos 80, a canção reflete o descontentamento com a sociedade e suas normas, utilizando a metáfora de animais considerados repulsivos para representar elementos indesejáveis no contexto urbano e social.
A letra da música chama a atenção para a presença de insetos e roedores em ambientes urbanos, como baratas, ratos e pulgas, que são convidados a invadir o espaço do 'cidadão civilizado'. Essa invasão simboliza a ruptura com a ordem estabelecida e a hipocrisia social, onde o que é considerado 'escroto' ou marginalizado deve tomar o lugar do que é tido como nobre e aceitável. A repetição agressiva do verso 'vão se fuder' reforça a ideia de rejeição e desdém pelas convenções sociais e pela falsa moralidade.
A música também pode ser interpretada como um hino de desafio ao status quo, um chamado para que as vozes e elementos marginalizados da sociedade se façam presentes e questionem a ordem vigente.
Trazendo para os dias atuais podemos perceber a metamorfose ocorrida junto aos principais atores da narrativa da sociedade atual.
Nos anos 1970 a elite intelectual do país se levantava de forma inteligente e ácida contra os desmandos do governo.
Nos anos 1980 e 90 a rebeldia da juventude desafiava os velhos pararadigmas e colocava em cheque as oligarquias dominantes.
Numa versão mais contemporânea os ditos líderes da oposição se portam de forma macunaímica.
Figuram como anti heróis idiotizados.
Fruto do despreparo e da imaturidade.
Protagonizam cenas caricatas onde fazem barulho nas redes sociais e pulam de forma coreografada em poças de lama que são responsabilidade dos governos que eles fazem parte e ao mesmo tempo criticam.
Lastimável para não dizer apenas patético e improdutivo!
É lamentável perceber a olhos vistos a deterioração da postura e da capacidade cognitiva das atuais figuras que postulam a condição dessa "pseudo oposição."
Só consigo resumir tais comportamentos como sendo fruto de Egos obesos e mentes anorexias!
Mantendo o otimismo nos resta sonhar com dias melhores, onde o bem estar coletivo seja mais importante que conseguir curtidas, comentários, likes ou seguidores.
Por fim, plagiando a rebeldia poética dos Titãs fica aqui para os personagens caricatos de plantão o grito icônico da canção: "Vão se fuder!!!"
Fonte: Rafael Rocha