tudo passa

A Escalada da violência dentro das escolas e a teoria das janelas quebradas.

Os reflexos da Tragédia de Blumenau

Por Rafael Rocha em 26/04/2023 às 19:49:12

Medidas como instalação de catracas, detectores de metais e a presença de segurança armada dentro das escolas não resolve o problema da violência, pelo contrário, potencializa e estimula. Como argumento teórico para justificar tal afirmação, trago à tona um estudo desenvolvido nos anos 1980 pela escola de Chicago, que entre outras coisas revolucionou os conceitos de criminologia acadêmica moderna.

Tal estudo, na realidade, tem suas raízes no final da década de 1960 e responde pelo conceito de teoria das janelas quebradas. Em síntese, essa pesquisa apresentada como resultado de estudos do cientista político James Wilson e do psicólogo criminologista George Kelling, ambos norte-americanos, que em 1982 publicaram na revista Atlântic Monthly um documento que, pela primeira vez, se estabelecia uma relação de causalidade entre desordem e criminalidade.

Os apontados estudiosos, em suas experiências, se valeram de dois carros, tendo abandonado um deles em um bairro de extrema pobreza e outro em um local residencial luxuoso de Nova York. No dia seguinte, o carro da periferia estava completamente destruído. Já o carro do bairro rico estava intacto.

Deixaram o veículo mais uns dias abandonado no bairro nobre, sem que nada acontecesse, até que, já começando a acreditar que a pobreza tinha relação causal direta com a criminalidade, um dos pesquisadores teve a brilhante ideia de quebrar as janelas do carro que estava no bairro nobre. Assim fizeram e abandonaram o veículo mais uma vez.

No dia seguinte o carro estava destruído. Chegaram então a conclusão que, o estímulo à prática do crime não é necessariamente a pobreza, mas, a sensação de impunidade. Essa constatação é de notável importância, em especial no Brasil, onde a mídia e parte da classe política insiste em apontar tal problema de forma a transparecer que a situação não tem relação com o papel do estado e sim, como um problema estrutural, crônico e até mesmo cultural, a ponto de ser tratado quase que como um defeito genético do nosso povo. De forma macunaímica, se aceita toda essa desordem e suas consequências de forma natural, como se fosse ela uma consequência da nossa tropicalidade.

Com base nesse estudo podemos transplantar todo o arcabouço social da violência nas escolas para a realidade dos nossos dias. Logo, entendemos que o caos instalado na sociedade e que agora transborda para dentro dos "muros das escolas", só será resolvido ou amenizado a partir de um grande pacto entre a sociedade, em especial a comunidade escolar e a família junto ao poder público, caso contrário, qualquer medida tomada será pura e simplesmente paliativa e ineficaz.

O Brasil é o segundo país do mundo no ranking de violência nas escolas, perdendo apenas para os EUA. Transformar escolas em prisões, definitivamente não funciona! Desde a década de 1980 várias escolas americanas passaram a contar com segurança armada dentro do ambiente escolar. No entanto, o número de ataques aumentou, portanto, não necessariamente catracas, detectores de metais e segurança armada dentro da escola resolvem o problema. As forças de segurança devem buscar investir principalmente em inteligência, uma vez que, os ataques são em sua maioria organizados pela Internet.

É imperativo a criação de protocolos onde escola e a família possam interagir no processo de formação humana e cognitiva dos alunos. Medidas mais austeras como revistar a mochila dos alunos é dever dos pais, acompanhar os conteúdos que eles postam e assistem pelas redes sociais também é função da família. Abrir diálogo e escutar as angústias dessas crianças e adolescentes, deve ser uma prática frequente por parte dos pais e da comunidade escolar.

Finalizando por aqui nossas reflexões, reafirmo a importância da construção de caminhos para a superação desse momento tão difícil e doloroso, onde a sociedade brasileira busca respostas para situações estarrecedoras que chocam e dilaceram nossos sentimentos como as que foram vistas no último dia 05 de abril, na creche Cantinho Bom Pastor, no Vale do Itajaí, na cidade de Blumenau.

Fonte: Rafael Rocha

CAMES
Pintando o SeteAzul