tudo passa

Carnaval e Política

O intervalo de descompressão

Por Rafael Rocha em 22/02/2023 às 22:27:46
O aumento dos tributos tais como: Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), seguido do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) veio como medida imediata dos primeiros dias de governo descumprindo escandalosamente, as promessas de campanha alardeadas aos quatro cantos do mundo e replicadas com toda a força do patrocínio estatal, por todo o consórcio de mídia cearense.
Em outro polo da esfera, onde o gestor municipal faz uma infeliz metáfora afirmando que o carnaval é uma revolução de autoestima em Fortaleza; Fica claro que ele realmente desconhece a cidade que governa, pois nossa capital mais do que nunca vem sendo tratada com descaso e desprezo pelo poder publico local, que na busca de se locupletar abandona e relaga nossa urbi a mais baixa autoestima possível, diante de uma prefeitura que impõe a ferro e fogo a fétida taxa do lixo, apartir da apatia de uma câmara municipal praticamente toda carcomida por interesses e vantagens pessoais.
De repente, como em um passe de mágica, começa o carnava e tudo cai subitamente no esquecimento da euforia que contagia o país, e, claro, também o Ceará.
Por fim, resta-me uma reflexão.
Será que a pressa de tais medidas foi uma mera coincidência e puro fruto do acaso ou foram produzidas com o calendário nas mãos de forma premeditada para que, ao aproveitar o tradicional intervalo de descompressão produzido anualmente nesse período festivo, o povo afogasse suas mágoas na euforia carnavalesca e como de costume mais uma vez, se resignasse diante dos desmandos da alcateia política do Ceará? Não é de hoje que o carnaval aparece como o salvador dos políticos brasileiros; como foi dito anteriormente, ele funciona como um intervalo de descompressão que joga os problemas para depois, por piores que sejam, ou amortecem as tensões latentes. Já na sua origem, o carnaval brasileiro nasceu sob o signo da política. Teve início com uma festa para salvar a pele de um político chamado Salvador Correia de Sá, governador do Rio de Janeiro e das províncias da Bahia.
No século XVII, em meados dos anos de 1640, no mês de março, Salvador recebe em mãos a mensagem do vice-rei, o Marquês de Montalvão, dando conta de que Portugal, então integrante do Império de Habsburgo, declarava independência da Espanha.
Cidadão híbrido, que sintetizava a elite da era filipina, Salvador pertencia a uma longa e grande linhagem de administradores do Brasil, a começar pelo tio-avô, Mem de Sá, e o pai, Martim Correia de Sá, governador da capitania do Rio de Janeiro. Porém, era espanhol de nascimento, nascido em Cádiz. Seu berço, sua mulher, suas propriedades e seus negócios estavam tão ligados à América Castelhana que a Corte em Lisboa receava que ele se mantivesse do lado espanhol.
A separação de Portugal o colocava entre a cruz e a espada, ameaçado de perder o enorme patrimônio na América Espanhola, na própria Espanha, e, por outro lado, também no Brasil. Administrador polêmico, acusado rotineiramente de nepotismo e corrupção, Salvador avançava sobre a América espanhola para negociar a prata das minas bolivianas e contrabandeá-las num trajeto "alternativo" por Buenos Aires, que passava pelo Rio de Janeiro, onde era trocada, sobretudo, por escravos. E viu sua rede de poder e negócios indo para a ruína.
Para mostrar que estava ao lado de Portugal de maneira "espalhafatosa e convincente", Salvador programou, então, uma comemoração para celebrar a chamada restauração da coroa portuguesa. Foram dias de muita folia e excessos. Para muitos historiadores, "a festança", repetida depois anualmente, foi perdendo o seu sentido inicial e dando origem ao que conhecemos hoje como carnaval. Dessa forma, entende-se a sua ligação umbilical com o Rio de Janeiro.
Sem imaginar, Salvador foi o primeiro "dirigente de escola de samba", uma festa sempre patrocinada com dinheiro público, que marginalizava e excluía quem dela não participava, e, atualmente, continua com a mesma dinâmica feita para adular e favorecer os poderosos da vez, assim como, servir de cortina de fumaça para os grandes problemas e polêmicas nacionais e locais da nossa política.
Que a quarta-feira de Carnaval seja um feixe de luz despertando o nosso povo que nesse momento está jogado as cinzas!

Fonte: Rafael Rocha

CAMES
Pintando o SeteAzul