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Cobertura vacinal baixa pode explicar alta de casos em países com Coronavac

Por Mais Ceará em 04/07/2021 às 13:36:29


Ao mesmo tempo, outros países, como Israel, também veem um aumento de casos e já se fecham novamente, apesar de altas taxas de vacinação com imunizantes de outras marcas. Da Pfizer, inclusive.


Nenhum desses cenários evidencia que as vacinas não funcionam. Todos os imunizantes contra a Covid-19 aprovados até agora geram proteção de mais de 90% contra casos graves e óbitos, embora a proteção contra a infecção em si tenda a ser mais baixa do que a observada nos estudos.


“Isso é o esperado, e todas as vacinas estão demonstrando isso: na vida real, a efetividade das vacinas é um pouco diferente do observado nos estudos de eficácia clínica”, diz o pediatra e diretor da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri.

O fato é que as vacinas mais tradicionais, que utilizam a tecnologia de vírus inativado (como Coronavac e Sinopharm), parecem ter efetividade menor na redução de casos sintomáticos de Covid, enquanto outras conseguem frear novas infecções. No entanto, fatores como cobertura vacinal e outras medidas de controle da pandemia são cruciais para a avaliação dessas vacinas em cada um dos países.


O Uruguai, por exemplo, realizou um estudo do impacto da vacinação até agora e concluiu que a Coronavac, aplicada amplamente no país, tem desempenho um pouco pior que o da Pfizer (RNA mensageiro) em relação aos contágios.


No estudo, a Coronavac mostrou uma taxa de infecção de 41,59 casos para cada 100 mil pessoas vacinadas com duas doses; com a Pfizer, esse número cai para 25,15 casos para cada 100 mil pessoas.

“É de celebrar que essas vacinas esvaziem os hospitais e reduzam as internações. Porém, a chegada das novas variantes, especialmente a delta, que se mostra mais contagiosa, aponta que apenas reduzir a possibilidade de a pessoa ficar doente não basta. É preciso frear o vírus. Se ele continua circulando, ainda que a letalidade seja menor, isso vai ser ruim no longo prazo, pois a circulação vai gerar outras variantes que podem começar a aposentar algumas vacinas”, diz Carlos J. Regazzoni, médico argentino especializado em bioestatística.

Foto: AEN


Sandra Cortes, presidente da Sociedade Chilena de Epidemiologia, reforça o argumento: “Não é algo menor que a transmissão continue. A prioridade é que a pessoa não fique doente e não morra, claro, mas deixar de transmitir também é muito importante. Estamos usando uma vacina [a Coronavac] que não é a mais eficiente em prevenir transmissão, embora obviamente seja positivo que previna mortes”.


Em um estudo do Ministério da Saúde chileno realizado com 10 milhões de pessoas, a redução das mortes com o uso da Coronavac se mostrou alta (80%), assim como a das internações em UTI (89%). “São dados que não deixam dúvida sobre a importância de tomá-la para prevenir a doença e a morte”, diz Susan Bueno, infectologista que dirige pesquisas sobre a Coronavac pela Universidade do Chile.


No Brasil, o estudo de eficácia na vida real e com cobertura vacinal massiva no município de Serrana (SP) mostra o poder da Coronavac de não só reduzir mortes e internações, mas também casos, desde que com cobertura vacinal ampla.

Na cidade paulista, 95% da população adulta foi vacinada com as duas doses da vacina; em dois meses, o número de óbitos caiu 95%, o de hospitalizações, 86%, e o de casos sintomáticos, 80%. A observação da redução de casos e hospitalizações foi possível quando 75% da população estava imunizada com duas doses, patamar ainda distante para a maioria dos países. Israel, Reino Unido e Estados Unidos, que lideram a vacinação no mundo, têm, respectivamente, 60%, 48,7% e 46% da população total vacinada com duas doses.

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, diz que a escalada de casos no Chile se deveu a um conjunto de fatores. “Eles abandonaram as medidas de restrição em meio a uma forte onda, e os novos casos de internação e óbitos foram em grande parte nos indivíduos não vacinados.”


Os especialistas lembram que há sempre um percentual de pessoas que pode ter um quadro agravado da doença e eventualmente morrer, mesmo quando imunizados com as duas doses. Num estudo feito com mais de 128 mil profissionais de saúde na Indonésia, por exemplo, a efetividade da Coronavac contra mortes foi de 98%. No último mês, registraram-se ao menos dez óbitos entre os profissionais de saúde no país asiático.


“Por maior que seja a efetividade, sempre haverá de 1% a 2% de casos da chamada falha vacinal. Já a percepção e o número de casos é diretamente proporcional ao que ocorre na população: se temos 100 mil casos por dia, vão ocorrer de 1.000 a 2.000 mortes, mas outros 98 mil foram protegidos graças à vacina”, diz Kfouri.
Fatores individuais, como idade e presença de comorbidades, podem levar a um quadro agravado mesmo em pessoas imunizadas.


Os dados preliminares do estudo de efetividade conduzido pelo grupo Vebra Covid-19, coordenado por Júlio Croda, infectologista e pesquisador da Fiocruz, mostraram que a eficácia da Coronavac varia de 28% a 62% na prevenção de casos sintomáticos entre pessoas acima de 70 anos.


Mas os dados para proteção de hospitalizações e óbitos, que devem ser divulgados em breve, são maiores.
Segundo Croda, mais importante do que a eficácia da vacina é a homogeneidade da cobertura vacinal. “Quando temos uma cobertura vacinal de mais de 90% nas pessoas mais idosas e cobertura reduzida nos mais jovens, é natural que ocorram também casos de morte nos idosos porque temos as chamadas bolhas de proteção, e não uma cobertura homogênea.”


Foto: Gilson Abreu/AEN

Para Susan Bueno, da Universidade do Chile, em vez de comparar vacinas, os governos devem priorizar “vacinar todo mundo, porque, se tivermos as melhores vacinas e não forem para todos, irá adiantar”.


A infectologista argentina Martha Cohen, que trabalha em Oxford, complementa a necessidade de ampliar a base de população vacinada. “A imunidade de rebanho natural, no caso do coronavírus, não existe, ainda mais com a variante delta. Essa imunidade só pode ser atingida com a vacina. É por isso que urge a necessidade de vacinar os menores de idade”.


Outro exemplo de país com mais de 50% da população vacinada, a Mongólia utiliza a vacina da Sinopharm e registrou recordes de casos nos últimos sete dias, com mais de 800 ocorrências por milhão de habitantes no dia 21 de junho (segundo o site Our World in Data). Mas, assim como no Chile, o pico de casos na Mongólia parece estar relacionado a uma reabertura cedo demais do comércio, com um percentual ainda baixo da população imunizada com duas doses.

O que esses exemplos mostram é que a possibilidade de imunizar toda uma população com duas doses em dois meses, como ocorreu em Serrana (SP), é inviável. E, nesse meio tempo, podem surgir agravantes, como uma nova variante. Israel e Reino Unido registraram alta de casos, principalmente nos mais jovens e não vacinados, em decorrência da alta circulação da variante delta nas últimas semanas.


Estudos como o de Serrana e o de Botucatu (SP) fornecem dados importantes sobre a efetividade das vacinas em um contexto de proteção contra as variantes do vírus –a gama, ou P.1, primeiro detectada em Manaus em janeiro, é dominante no interior do estado e mesmo assim a Coronavac se mostrou eficaz

Fonte: Banda B

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