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Comportamento da população na pandemia "decepciona", diz diretor do Sírio Libanês

Por Mais Ceará em 16/03/2021 às 10:15:00
 

No início da pandemia, as imagens de médicos utilizando escafandro e cilindros de oxigênio nos deixaram com a impressão que a prevenção da covid-19 era muito complicada.

Mas a experiência mostrou que atitudes simples, como manter o distanciamento físico, usar máscaras e evitar aglomerações, são as medidas que mais ajudam a evitar uma infecção pelo coronavírus responsável pela pandemia atual.

Equipes médicas atendem pacientes no Hospital de Campanha de Belém (PA), em foto de quinta-feira (11). (Foto: Tarso Sarraf/Folhapress)

Apesar de relativamente simples, essas estratégias são ignoradas por parte da população — e não são reforçadas por nenhuma campanha de comunicação feita pelo Governo Federal.

Essas e outras observações foram feitas pelo médico Paulo Chapchap, diretor geral do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, numa entrevista exclusiva à BBC News Brasil.

O especialista ainda contou que todas as previsões mais pessimistas feitas pelo comitê de crise do hospital estão se concretizando e as últimas semanas foram as piores desde que a pandemia começou, há mais de um ano.

Chapchap também chama a atenção para o risco que o fechamento prolongado das escolas traz às futuras gerações. “Há um enorme prejuízo às crianças. Esse dano é permanente e coletivo”, aponta.

Confira os principais trechos a seguir.

BBC News Brasil – Como o senhor classifica a atual situação da pandemia de covid-19 no hospital e, de forma mais ampla, em todo o Brasil?

Paulo Chapchap – Esse é o momento de maior demanda de pacientes com covid-19 no nosso hospital. De todas as semanas desde que começou a pandemia no Brasil, essas são as piores que temos até agora. Dia após dia, temos batido nosso recorde anterior de indivíduos internados aqui no Hospital Sírio-Libanês.

O médico Paulo Chapchap, diretor geral do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo – Divulgação

BBC News Brasil – Na experiência do senhor, o momento atual se aproxima a algum outro período de crise que vocês viveram por aí?

Chapchap – Não, essa é a pior crise sanitária que o país viveu em toda a sua história. Não há dúvida, pelo menos se considerarmos a história moderna. É claro que tivemos problemas anteriores, como a gripe espanhola em 1918. Mas do que nós presenciamos, não há dúvidas de que essa é a maior crise que já vivemos.

E ela não é um desafio apenas para o sistema de saúde, mas para a sociedade brasileira como um todo. Isso porque há implicações enormes em todas as áreas da vida e da economia.

Nós observamos, por exemplo, um efeito brutal na socialização das crianças e no comprometimento cognitivo delas pela falta do estímulo escolar. A crise é tão disseminada no país que afeta todas as áreas de nossa sociedade de uma forma muito grave. Nós precisamos então encurtá-la o máximo que conseguirmos para voltar à normalidade assim que possível.

BBC News Brasil – Nas últimas semanas, acompanhamos as notícias de diversas cidades do país com lotação total de seus leitos hospitalares. Como lidar com esse cenário de crise e escassez do ponto de vista da gestão hospitalar?

Chapchap – Esse é um desafio permanente. Porque além de lidar com a covid-19 e com os pacientes potencialmente contaminantes, devemos pensar nos próprios colaboradores do hospital, que precisam zelar pela própria saúde e o bem-estar de suas famílias. Em paralelo a todos os atendimentos relacionados à pandemia, as pessoas continuam a sofrer com problemas cardíacos, neurológicos, câncer, outras infecções…

Tudo isso confere ao hospital um desafio de atender a demanda e segmentar as necessidades. Nós criamos fluxos separados das pessoas com suspeitas de covid-19 e outros indivíduos que precisam vir até aqui. Essa adaptação precisa ser rápida, isso é fundamental.

Mas eu preciso te dizer uma coisa: aqui no hospital nós construímos projeções do que vem pela frente. E nós sempre adotamos o cenário mais pessimista para nos prepararmos. E preciso te dizer que nós temos acertado: as nossas previsões mais pessimistas têm se materializado.

Quando vieram as festas de final de ano, nos preparamos para uma maior carga de serviço, uma demanda que realmente aconteceu no mês de janeiro. Quando aconteceram os feriados de carnaval, previmos uma piora do quadro e, de novo, isso se materializou, levando a essa enorme sobrecarga de serviço que temos agora.

BBC News Brasil – Nos últimos meses, acompanhamos uma série de eventos que incentivaram a aglomeração de pessoas, como as eleições, as festas de final de ano e o carnaval. Em paralelo, uma nova variante do coronavírus foi descoberta em Manaus no início do ano. Esses dois fatores explicam o cenário da pandemia que vivemos agora?

Chapchap – Sim, e elas conferem um desafio adicional. Mesmo fora desses eventos específicos que você citou, o comportamento das pessoas tem sido bastante inadequado frente ao conhecimento que nós já temos das medidas de proteção. Hoje nós sabemos que os cuidados preventivos são mais simples do que imaginávamos lá no começo. Nós víamos aquelas imagens da China, com as pessoas pulverizando as casas, aplicando sprays antissépticos em todos os lugares, profissionais da saúde usando escafandro, respirando por tanques de oxigênio…

Hoje sabemos que nada disso é preciso. Se você usar máscara e manter um distanciamento das pessoas, não vai contrair a doença. As medidas são muito simples. Sabendo que o sacrifício poderia ser menor, acreditamos que isso seria suficiente para que as pessoas evitassem as situações de alto risco, o que nos permitiria controlar a pandemia.

Mas nós nos surpreendemos negativamente ao vermos que as pessoas não adotam essas simples medidas de contenção. Há uma certa decepção dos profissionais da saúde com o comportamento da população na pandemia. Vemos indivíduos fazendo festas com aglomerações, que tiram a máscara para comer, beber, cantar… E tudo isso em ambientes fechados. A chance de cruzar com alguém infectado é muito grande.

Nós sabemos como conter a disseminação do vírus e ainda há tempo de fazer isso. Se todos cooperarem e fizerem o certo, em duas ou três semanas começaremos a ver uma curva descendente de casos e óbitos, o que vai nos alegrar muito.

Leia a entrevista completa AQUI na BBC

Fonte: Banda B

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