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Alerta feito por empresa sobre oxigênio foi "relativamente suave" e não indicava crise como em Manaus, diz Saúde

Por Mais Ceará em 28/01/2021 às 21:00:32

“Quem pega o ofício que chegou para nós e ler vai ter a mesma impressão. Quem está vendo gente morrendo pra cima e pra baixo vai dizer: nem parece que está falando de algo que está faltando com a gravidade que está faltando”, disse.

Apesar da fala, Fernandes negou ter intenção de atribuir responsabilidade à empresa, responsável por fornecer o oxigênio. “Não tem culpado. O culpado é coronavírus”, disse. “Passaram dois e três dias e o consumo estourou. A empresa não tinha como adivinhar.”

O jornal Folha de S.Paulo mostrou, porém, que esse não foi o único alerta recebido pela pasta -acionada por integrantes do governo do Amazonas e alertada até mesmo uma cunhada do ministro Eduardo Pazuello que tinha um parente “sem oxigênio para passar o dia”, conforme reportagem de 16 de janeiro.

A suspeita de omissão do ministério levou o STF (Supremo Tribunal Federal) a abrir um inquérito para investigar Pazuello pela conduta adotada em Manaus.

Sem citar o processo, Fernandes tentou fazer uma defesa da pasta ao citar medidas adotadas durante a reunião desta quinta (28). “Tem culpado? Vamos ver. Mas acho que agora não é hora de procurar não, vamos achar a solução.”

De acordo com o assessor, o fornecimento de oxigênio no país não é problema, “mas a logística e os meios para chegar até Manaus”.

A situação também já ameaça fornecimento de oxigênio a Roraima, aponta Fernandes, segundo quem a pasta trata a crise como “de toda a região Norte”.

“Todo oxigênio medicinal de lá [Roraima] passa por Manaus. Alguém pergunta: não pode vir da Venezuela? Vamos ver. Estamos estudando todas as soluções possíveis. Manaus tradicionalmente manda oxigênio para Roraima, mas lá também teve elevação do consumo. E Manaus não conseguiu liberar para Roraima mais do que o normal, e Roraima está ficando apertada.”

Falta de oxigênio para os paciente da Covid-19 em hospitais de Manaus (AM), nesta quinta-feira (14/01). Familiares de internados precisam comprar oxigênio para manter os seus parentes vivos. (Foto: Junio Matos/A Crítica/Folhapress)

Ele apresentou estimativas da pasta que apontam o deficit de 48 mil m3 de oxigênio em Manaus em relação ao que é produzido pela White Martins no estado.

Questionada pela reportagem sobre a fala de Fernandes, a White Martins informou em nota que alertou a Secretaria de Saúde do Amazonas “de forma clara e baseada em fatos, tão logo identificou o aumento do consumo exponencial e abrupto de oxigênio na região, a necessidade de esforços adicionais e a contratação de outros fornecedores”.

A comunicação foi feita formalmente no dia 7 de janeiro ao estado, aponta, “informando ainda que a companhia vinha fornecendo o produto em quantidades superiores às suas obrigações contratuais”.

Segundo a empresa, o alerta foi compartilhado pela secretaria ao ministério. Em nota, a empresa diz ainda ter feito outros alertas de aumento no consumo em 2020 e diz que não tem como fazer previsão de aumento da demanda.

Ainda na reunião, o assessor do ministério, que está à frente do comitê de emergência criado para discutir o caso, apontou que, para resolver o problema, a pasta tem adotado medidas como a transferência de pacientes a outros estados, a instalação de usinas de oxigênio e uso de aeronaves e balsas para levar cilindros à região.

Segundo ele, a previsão é que o fornecimento aumente para até 100 mil m3 de oxigênio nos próximos dias. “E aí acredito que tanto Manaus quanto Roraima vão ter a folga que precisam”, disse, sem citar datas.

Ele admite, porém, que o problema ainda não estaria resolvido. “[A necessidade] Pode aumentar mais ainda.”
Até o momento, 321 pacientes já foram transferidos a ao menos dez estados, segundo o ministério. Fernandes, no entanto, diz que a pasta tem enfrentado dificuldades em fazer novas transferências.

Familiares de pacientes internados nos hospitais de Manaus (AM), fazem fila em uma empresa de oxigênio, na tarde deste domingo (17), no bairro Colônia Antônio Aleixo. (Foto: Sandro Pereira/Folhapress)

“A oferta desses leitos para nós é ouro. São leitos que aparecem a conta-gotas”, diz, citando como exemplo o fato de que 22 pacientes de Rondônia foram transferidos para locais distantes, como Porto Alegre e Curitiba. “Não precisa ser inteligente para saber que estamos com problemas de conseguir essas vagas”, afirmou.

Presente na reunião, o secretário de saúde do Amapá, Juan Mendes da Silva, também apresentou preocupação. “E quando tivermos em mais estados? Não existe culpados”, disse, frisando que é preciso organização prévia.

A preocupação foi reforçada por outros representantes dos estados e municípios.

Para Carlos Lula, presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), a transferência para outros estados mostrou um “caminho para o SUS”, mas não resolve o problema, aponta.

“Não podemos nos deixar iludir com os resultados dessa operação. Transporte de pacientes tem um limite, há uma fila grande de pacientes esperando, e não vamos conseguir transferir tantas pessoas. Estamos lidando com aumento muito grande de casos nas próximas semanas. Temos que pensar em como ajudar o Amazonas, e os outros estados afetados”, disse, citando como exemplo Rondônia e Roraima.

Ele sugeriu a abertura de um hospital de campanha em Brasília. “É uma região com acesso garantido a oxigênio e ficaria mais simples”, disse. Em resposta, membros do ministério disseram que iriam avaliar a proposta.

VACINAÇÃO

No mesmo encontro, secretários de saúde também cobraram respostas do Ministério da Saúde em relação à compra de mais 54 milhões de doses de vacinas do Butantan.

A cobrança ocorre após o presidente da Fundação Butantan enviar um ofício ao ministério em que aponta risco de desabastecimento caso haja resposta apenas em maio-prazo definido no contrato.

O secretário-executivo, Elcio Franco, disse ver “maldade” e “desinformação” em torno do caso.

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

“O que estava no contrato é que o ministério teria 30 dias após a entrega do último lote para se manifestar se faria a opção de compra de mais 56 [54] milhões de doses. Isso está no contrato, e o Butantan aceitou, e naquela oportunidade não manifestou possibilidade de atraso no cronograma, desabastecimento, nada disso.”

Ele evitou, porém, responder se a pasta deve prorrogar ou não o contrato e frisou que o ministério negocia com mais empresas.

“Continuamos negociando com vários outros laboratórios. Conseguindo vacinas o quanto antes, melhor. Essas do Butantan são a partir de maio. Se puder entregar mais num período menor, melhor para o Brasil, se não puder, vai ser uma pena, mas faz parte da contingências de produção de IFA [insumo farmacêutico usado para produzir vacinas]”.

Segundo ele, entre as empresas com quem a pasta negocia, duas são “mais promissoras em quantidade e cronograma”: Bharat Biotech, da Índia, e Gamaleya/União Química. Ambas, no entanto, ainda precisam realizar estudos de fase 3 no Brasil para que possam pedir uso emergencial.

No encontro, Franco disse ainda que a negociação para obter mais 10 milhões de doses da vacina de Oxford com o instituto Serum, da Índia, está “bastante adiantada”, assim como a liberação de insumos da China, necessários para produzir a vacina no Brasil. O secretário, porém, não deu datas para essa liberação.

Fonte: Banda B

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