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Com adiamentos e dados picados, estratégia de divulgação da Coronavac provoca guerra sobre a vacina

Por Mais Ceará em 12/01/2021 às 22:51:33

A gestão Doria mudou outra vez de planos e resolveu pedir o registro emergencial, mas o dado da eficácia não foi apresentado. Na ocasião, a Sinovac pediu ao Butantan toda a base de dados para reavaliar o estudo, o que levaria até 15 dias.

Na última semana, a gestão Doria disparou um aviso à imprensa convidando jornalistas para o "anúncio sobre a eficácia da vacina do Butantan", no dia 7 de janeiro. Na apresentação, com a presença do governador Doria, a gestão afirmou que a Coronavac teve eficácia de 78% para a prevenção de casos leves de Covid-19 e de 100% para casos graves no estudo.

Os números foram comemorados pela população e por grupos de diferentes espectros políticos, mas cientistas questionaram o dado, uma vez que o governo não deu detalhes sobre como se chegou aos números e nem abriu as bases de dados do estudo.

O Butantan convocou a imprensa para um novo encontro, nesta terça-feira, quando os dados completos foram disponibilizados e a eficácia global, enfim, foi informada: 50,38%.

Com a aparente discrepância de informações, a campanha #DoriaMentiroso entrou nos assuntos mais comentados em redes sociais e virou piada para grupos ligados ao presidente Jair Bolsonaro, com quem Doria busca antagonizar.

"Se apertar mais um pouco, cai para 30%", afirmou um apoiador do presidente. "Caindo mais que a popularidade do Doria", escreveu outro.

Os números diferentes chamaram a atenção também da imprensa internacional. A Reuters chamou os dados de decepcionantes e o Wall Street Journal destacou que o imunizante é bem menos eficaz do que inicialmente.

Outro ponto que provocou críticas foi a eficácia para casos graves, anunciada como de 100% e propagandeada em peças publicitárias do governo Doria. Nesta terça, no entanto, o Instituto Butantan afirmou que os dados neste segmento ainda não têm significância estatística.

"Chacrinha já ensinou há um tempão: quem não se comunica, se trumbica. A comunicação em saúde é uma das coisas mais importantes que se tem e deve ser feita com a maior clareza e transparência possível", afirma Ana Escobar, médica e divulgadora científica, que escreve sobre saúde e tira dúvidas na TV e na internet -só no Instagram tem mais de meio milhão de seguidores.

Butantan divulgou dados que mostram que a vacina teve eficácia de 78%Foto: Reprodução/Twitter

"Em relação à Coronavac, os números estão todos corretos, tanto os de semana passada quanto os de hoje. Interpretar a eficácia de uma vacina não é coisa corriqueira, simples. O governo pode não ter colocado os dados com muita clareza, mas agora a gente precisa reforçar que temos uma vacina boa, eficiente, eficaz e segura", diz ela, que elogia os esforços do Butantan para garantir a imunização.

Para o médico e pesquisador Marcio Bittencourt, "a estratégia de comunicação escolhida dá margem para pessoas questionarem a vacina. É um problema de comunicação, as pessoas não entendem o que os números significam e quem apresentou não os explica", diz ele, que afirma ter receio de que a estratégia errática possa ter efeito na vacinação no país.

Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (SP), afirma que que não houve manipulação política dos números divulgados pelo Butantan. "Só acho que eles deveriam ter publicado os dados todos em conjunto, inclusive esses 50,4%".

Domingos deixa claro, porém, que esse complemento não modifica os números que tinham sido apresentados anteriormente. "Continua sendo uma excelente vacina para a gente acabar com o caos que está acontecendo hoje, principalmente de internações. É uma vacina eficaz, principalmente para casos graves e moderados, vai reduzir pra caramba o número de internações. O que se tem que fazer é urgentemente começar a vacinação, a mais ampla possível", afirma.

O dado divulgado nesta terça indica que a vacina reduz em 50% a chance de desenvolver a Covid-19 em qualquer intensidade, desde casos muito leves, com os sintomas mais brandos, até os mais graves.

Ademais, o imunizante se mostrou seguro: só 0,3% dos participantes reportaram algum tipo de reação alérgica.

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Fonte: Banda B

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