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Direita reage à campanha sobre título de eleitor e aposta em influência nas redes para ganhar voto adolescente

Por Mais Ceará em 24/04/2022 às 09:06:28

Mudanças na linguagem e na comunicação com o eleitorado, mobilizações através de grupos políticos independentes, convocações para grandes manifestações e uma capacidade de elegibilidade de novos quadros no cenário público. Estas foram algumas das principais mudanças capitaneadas pelos jovens de direita no tabuleiro político desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em São Paulo, tanto no Estado quanto na capital, emplacou representantes como Fernando Holiday (Novo), eleito vereador em 2016, aos 20 anos de idade, reeleito em seguida e que conversou com a Jovem Pan; Daniel José, deputado estadual, em 2018, aos 30 anos; e Kim Kataguiri, deputado federal, aos 22 anos. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, Nikolas Ferreira elegeu-se vereador com 23 anos e propostas ainda mais conservadoras. Em Fortaleza, no Ceará, Carmelo Neto assumiu uma cadeira de vereador aos 19 anos. O cenário mostrou que a juventude que se alinha à direita ajudou a alterar o prumo ideológico que norteou o país no passado. Esse ritmo pode estar recuperando a força registrada quatro anos atrás.

Reação governista

Em contraposição à campanha do TSE para que adolescentes tirem o título de eleitor e que contou com vozes progressistas como a de Anitta, jovens bolsonaristas entre 16 e 17 anos foram às redes sociais para mostrar que vão às urnas em outubro. Influenciadores e políticos levantaram a campanha “Sou Jovem, Sou Bolsonaro”. Deputados federais alinhados ao governo federal, como Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF), entraram de cabeça. Em disputa, estão 10 milhões de brasileiros que já encontram-se aptos a escolher seus candidatos. No Twitter, entre 1º de março e 6 de abril, foram realizados 287,7 mil postagens convocando os adeptos. No mês em que o movimento bolsonarista agiu para alistar os jovens, a procura para a emissão do título de eleitor nos Tribunais Regionais Eleitorais cresceu. Em março, a Justiça Eleitoral registrou um aumento de 45,63% nos alistamentos, em comparação com o mês passado.

A Diretoria de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP) informou que, em 36 de março, as hashtags #jovenscombolsonaro e #soujovemsoubolsonaro atingiram seu ápice em um dia, com 167 mil mensagens. Instagram, Twitter e YouTube ainda são bastante usadas pela direita, mas a plataforma do momento é o TikTok. Perfis de jovens e adolescentes que se assumem conservadores proliferaram na plataforma. O perfil Jovens de Direita (@jovens_de_direita), por exemplo, reúne mais de 86 mil seguidores. Nele, são postados vídeos com dancinhas e mensagens direitistas. “Se diz comunista, mas adora usar iPhone, comer Big Mac e tomar Coca Cola diz o texto incluído em uma das últimas publicações da página. Ao mesmo tempo, uma adolescente faz caras e bocas ao som de Mega Funk Sul.

Segundo o vereador de São Paulo, Fernando Holiday, houve um amadurecimento dos jovens que levantaram a bandeira da mudança anos atrás, e isso se reflete no eleitorado. Na visão do parlamentar, muitos eleitos em 2016 e em 2018 “não eram pessoas que estavam acostumadas ao meio político, eram em sua maioria militantes que acabaram se transformando em políticos”. Com isso, as novas figuras de destaque joviais passaram a entender como funcionam as instituições, a forma de se comportar e de se representar o eleitorado por meio do mandato. “Acho que isso explica essa "discrição" [dos novos eleitores] em se comparando à 2018”, avalia o parlamentar.

Linguagem contemporânea

Um fator que pode explicar o sucesso do público jovem de direita nos últimos pleitos é a disseminação de suas ideias através de um novo formato de comunicação com seu público alvo. Com publicações irônicas, de humor e se utilizando da cultura de “memes”, os jovens passaram a alastrar suas ideias pelas redes sociais vencer a guerra de narrativas. Holiday, que esteve presente durante esta transformação linguística atuando no Movimento Brasil Livre (MBL), afirmou que o modelo de disseminação de ideias através dos memes continuará a existir, “principalmente com a utilização do humor”. O parlamentar alegou que a prova disso é que a própria esquerda, que em eleições anteriores não se utilizava desse métodos, cada vez mais adere ao modelo de memes e uma comunicação mais jovial. “São sintomas que explicam que essa fórmula de comunicação na internet e nas redes sociais funcionou e veio para ficar, é um modelo que se tornará cada vez mais permanente”, afirma o vereador.

Possível frustração

O engajamento, porém, teve um ritmo de desaceleração no início do ano. Apenas 10,8% da população apta a solicitar seu direito a voto o fez até primeiro de janeiro de 2022. Em comparação, entre primeiro de janeiro de 2014 e 2018, os números eram de 19,5% e 21,3%, respectivamente, de adolescentes que buscaram se regularizar para participar do processo democrático. Samuel Oliveira, cientista político e diretor vice-presidente da Organização Não Governamental (ONG) Voto Consciente, avalia que os jovens de direita que participaram de maneira ativa das últimas eleições terão um “papel importante” neste pleito ao decidir “que tipo de proposta apoiarão” e se “vão continuar a integrar a política ou se esse movimento de afastamento se intensificará”.

Já Holiday confessa que há “um certo nível de desilusão” após a atuação da última legislatura no Congresso Nacional — o mais conservador desde a redemocratização —, já que “boa parte daqueles eleitos só queriam gerar polêmicas, conseguir visualizações, popularidade na internet e não efetivamente mudar a vida das pessoas”. O vereador paulistano ressalta, ainda, que jovens conservadores e liberais podem estar decepcionados com a política. “Mas acho que isso não necessariamente significa que vá gerar algum desinteresse. Pelo contrário, acho que servirá de combustível para um engajamento maior dos jovens de direita nas eleições de 2022.”

Fonte: JP

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