tudo passa

Os males da comparação

Por Dr Alex Curvello

Por Mais Ceará em 04/03/2021 às 20:17:58

Recordo-me bem, eu tinha 18 anos, estava conversando na varanda de casa com minha mãe, tia Mara e Francesco, italiano, marido de tia Mara, dentre os muitos assuntos que conversávamos comecei como muitos a comparar, de forma insatisfeita o Brasil com países da Europa, daí surgiu uma lição que trago por toda vida.

Antes mesmo que eu conseguisse concluir meu raciocínio, o bom amigo Francesco pediu educadamente a palavra, quando eu de pronto parei para escutá-lo. Ele então proferiu o seguinte ensinamento:

"Caro Alex, o Brasil dificilmente, e digo isso com pesar, conseguirá êxitos no sentido de uma melhora na extrema desigualdade social em que vive e, com isso, há uma grande dificuldade na melhoria dos serviços públicos, lhe explico com fatos.

O Brasil é um país de pessoas cordiais, que apesar de tanta dificuldade diária tenta superar com alegria, tem uma vasta terra que planta, colhe de tudo e cria animais de muitas espécies.

Diante desse fato que todos vocês já estão cansados de saber, e agora falo com a certeza interna, de que você felizmente ou infelizmente não verá a mudança que deseja, aí caberá a você decidir.

A "elite" que toma conta do Brasil nunca passou e bem provável que nunca passe pela fome, pela dificuldade extrema, por uma guerra onde possa cair uma bomba, onde o "rico" mora e ele passe a perder tudo da noite para o dia, os bancos reterem todo o dinheiro ou simplesmente nem o banco mais existir porque foi destruído pela guerra.

Eu passei por isso, meus pais perderam tudo, logo eu perdi tudo também, não me considero "elite" de onde vim, mas eles sempre me relataram o sentimento deles do antes e pós guerra, da necessidade de se construir um país forte e uniforme com o mínimo de desigualdade.

Então concluo de forma bem simplória pois este é um tema bastante delicado, parte pequena dos que tentam direitos melhores e igualitários para todos no Brasil não tem força para superar a parte dominante que não sente na pele a necessidade do que os menos favorecidos passam.

Assim, deixo para você a questão, melhor do jeito que está, lutando incansavelmente por um país melhor, com pessoas que não querem passar por uma guerra, que você leu em livros, viu em filmes, e que permita aos mais abastados sentirem na pele a necessidade que o próximo sente?"

Essa conversa me norteou para evitar ao máximo comparações de onde moro, principalmente com países que passaram por inúmeras situações que o Brasil nunca chegou nem perto, como também para princípios políticos que tenho e que defendo, considero que minha análise política para determinar o voto, vai do que fulano(a) ou beltrano(a) propõem de melhor para coletividade menos favorecida, e não para um determinado grupo.

Confesso que não tenho a resposta, de fato, para o questionamento de Francesco, entretanto o que busco sempre é o respeito.

Não tenho como negar minhas vantagens de vida, família até certo ponto estabilizada, na medida do possível, boa condição financeira e força interna para buscar melhorar o que não está bom. Mas evito comparações, sempre alinhado ao ensinamento narrado acima.

A escrita de hoje vai bem contra o que já fui e que boa parte das pessoas aparentam ser e viver na síndrome de Ícaro, tentar voar perto demais do sol, querendo "chegar lá", de forma imediata sem passar pelos percalços dos ensinamentos que os outros passaram.

No mundo e não só no Brasil existem pessoas, físicas e/ou jurídicas, de atitudes ruins, que provocam dor, mas acabam se especializando em fabricar "anestésicos" que amenizam, mas não curam, esse tipo de pessoa, acredito que não deva ser dominante como está sendo. Porém entendo também que essa mudança se dá em doses homeopáticas. E, como disse meu amigo Francesco, talvez eu não esteja aqui para ver.

Uma boa maneira de tentarmos modificar esse quadro atual que estamos (mundo) vivendo é pela via da democracia, onde devemos ser participativos, até porque se estagnarmos ou desiludirmos, ela desmorona.


Fonte: Dr Alex Curvello

CAMES
Pintando o SeteAzul